segunda-feira, 30 de julho de 2012

O Estado de S. Paulo - Novos autoritários na América Latina


Texto interessante, mostra como alguns (principalmente americanos) acreditam que democracia é um modelo igual pra todos, e quem não está seguindo-o manda mal.
Outra coisa interessante: EUA e Brasil têm que fazer alguma coisa pra "corrigir" tais governos? Essa postura já prejudicou muito o mundo.


O Estado de S. Paulo - Novos autoritários na América Latina / Visão Global

Com cumplicidade de EUA e Brasil, multiplicam-se no continente regimes híbridos, situados em algum lugar entre democracias imperfeitas e ditaduras imperfeitas
JUAN FORERO, WASHINGTON POST, É CORRESPONDENTE EM BOGOTÁ
Mais de duas décadas depois da dissolução das últimas ditaduras de direita na América Latina, surge um novo tipo de líder autoritário em vários países: presidentes democraticamente eleitos que estão governando de maneiras cada vez menos democráticas. Diferentemente das juntas militares linha dura de uma geração atrás, esses líderes não assassinam figuras da oposição, nem declaram lei marcial. Mas em um punhado de países, populistas carismáticos estão colocando o mais sério desafio às instituições democráticas na América Latina desde os anos 1980, quando guerras rebeldes e ditadores eram a norma.
Na Venezuela, no Equador, na Nicarágua e outros países, os líderes acumularam vastos poderes que empregam para controlar tribunais enquanto marginalizam seus adversários e a mídia, dizem grupos de direitos humanos e analistas. "Estamos vendo na América Latina presidentes muito populares usarem sua condição de maioria para subjugar a oposição, para erodir os freios e contrapesos", disse Javier Corrales, professor do Amherst College e coautor de Dragon in the Tropics (O dragão nos trópicos, em tradução livre), um livro de 2011 sobre o presidente venezuelano Hugo Chávez. "Esses presidentes na América Latina entraram e depois manipularam com muita astúcia o sistema em seu proveito."
Mas o que grupos de direitos humanos e alguns líderes políticos chamam de crescente ameaça aos avanços democráticos alcançados a duras penas tem atraído uma resposta morna das democracias mais vibrantes e influentes das Américas, entre elas Brasil e Estados Unidos, segundo alguns observadores. "Um país que simplesmente não age são os Estados Unidos", disse Santiago Canton, um especialista argentino em assuntos jurídicos que dirige o programa de diretos humanos do Robert F. Kennedy Center for Justice and Human Rights. "E o Brasil está lamentavelmente mais alinhado com a tradição latino-americana de não se envolver. Eles permitem coisas que não deveriam ser permitidas."
Os republicanos em Washington criticam duramente o governo Obama, acusando-o de olhar para o outro lado em face do insidioso autoritarismo e as relações amistosas que Irã e Síria estão forjando com o governo da Venezuela, o Estado sul-americano mais estridentemente antiamericano.
O senador Robert Menendez (democrata de New Jersey), que preside a subcomissão do Hemisfério Ocidental da Comissão de Relações Exteriores do Senado fez audiências sobre os perigos para a democracia regional e defendeu que a Casa Branca está "mais engajada" na região que governos passados. Mas ele disse que era preciso dar mais respaldo a movimentos democráticos e à Comissão Interamericana de Diretos Humanos, um braço autônomo da Organização dos Estados Americanos que investiga abusos de direitos na região.

A comissão irritou presidentes da região com relatórios recriminando seus governos por violarem direitos humanos e liberdades civis, incluindo prisões arbitrárias e fechamento de meios de comunicação - a Venezuela anunciou sua saída da comissão nesta semana.
Embora a maior parte das investigações recentes da comissão tenha se centrado em Estados Unidos, Colômbia e Honduras, o presidente equatoriano Rafael Correa acusou a organização de ser um fantoche dos Estados Unidos. Ele está liderando outros países num esforço para adotar reformas que efetivamente aleijariam a comissão. Isso anunciaria "um tempo mais sombrio para o hemisfério", disse Menendez, acrescentando que "a realidade crescente e alarmante" é que a Venezuela, comandada por um líder cativante e messiânico com os cofres cheios sustentados pelo petróleo, está determinado a ver países menores copiarem seu modelo.
Nos últimos 20 anos, alguns líderes pró-americanos democraticamente eleitos na região também enfraqueceram a governança democrática, segundo a organização Human Rights Watch, com sede em Nova York, que monitora de perto vários países da região. Na Colômbia, Alvaro Uribe forçou a aprovação de uma reforma constitucional legalmente questionável para concorrer novamente em 2006 e seus assessores estão sendo investigados por seu papel num escândalo de espionagem ilegal da Suprema Corte. No Peru, Alberto Fujimori fechou o Congresso. Mas há dois anos Uribe foi impedido de disputar um terceiro mandato, e Fujimori está na cadeia.
Exemplo. Hoje, o mais proeminente e poderoso do punhado de líderes democraticamente eleitos que goza de controle quase total da vida política de seus países é Chávez. Enquanto se recupera de um câncer, o ex-tenente-coronel está concorrendo à reeleição na eleição presidencial marcada para outubro, quando procurará prolongar uma presidência que teve início em 1999.
Outros presidentes que consolidaram seu domínio do poder - controlando, entre outras instituições, os tribunais, depois lhe dão vantagem sobre oponentes - incluem Correa, do Equador, Evo Morales, da Bolívia, e Daniel Ortega, da Nicarágua. Todos são declaradamente críticos do governo Obama, defendem a intervenção do Estado na economia e têm atuado para fortalecer alianças com adversários de Washington, entre os quais Cuba, Irã e Rússia.
No lado pró-americano estão Ricardo Martinelli, do Panamá, um dirigente favorável aos negócios que é acusado de lotar a Suprema Corte de aliados enquanto usa o poder do Tesouro para agradar aliados. "São regimes híbridos, em algum lugar entre democracias imperfeitas e ditaduras imperfeitas", disse Teodoro Petkoff, um ex-guerrilheiro de esquerda e hoje editor de Tal Cual, um jornal de Caracas que mantém uma relação de oposição a Chávez. "Prefiro defini-los como autoritários e centrados na personalidade de seus líderes. Creio que, de certa forma, Chávez, Correa e Daniel Ortega são todos iguais em seu apego ao poder."
Na América Latina, contudo, só existe uma ditadura - o regime comunista de 53 anos em Cuba, onde não há eleições livres, a mídia independente está banida, dissidentes são presos e um vasto aparato de espiões vigia os cidadãos.
Países da América Central e andinos, onde grupos de direitos humanos dizem que a democracia está ameaçada, continuam exibindo muitas das características de seus vizinhos plenamente democráticos: uma mídia noticiosa atuante, organizações da sociedade civil e de oposição política, como grupos de direitos humanos e fiscalização eleitoral. Sua capacidade de operar na Venezuela ou Equador é mais limitada do que, por exemplo, no Brasil, mas elas oferecem uma aparência de democracia vibrante.
"Para regimes que estão experimentando meios autoritários modernos, limitar a liberdade de imprensa e a oposição não só é permitido, como necessário porque isso lhes permite manter uma fachada de democracia", disse William J. Dobson, autor de The Dictator"s Learning Curve (A curva de aprendizagem do ditador, em tradução livre), um livro recém-publicado sobre governos autoritários modernos.
Longevidade. O que Chávez e outros presidentes poderosos têm em comum é que eles conquistaram o poder e permaneceram no cargo pelas urnas. "Eles não roubam votos", disse Jose Miguel Vivanco, diretor para as Américas da Human Rights Watch. "Uma vez eleitos, porém, seu exercício do poder é muito diferente do conceito democrático de fortalecimento das instituições democráticas. O que eles fazem é aparelhar o sistema para tentar permanecer indefinidamente no poder."
Com Chávez, o governante mais longevo nas Américas, uma série de leis, regulamentos e éditos obrigou estações de rádio e televisão a fechar enquanto serviços de segurança estatais prendiam alguns oponentes ou os forçavam a se exilar. "Esse sistema está firmemente enraizado e os riscos para juízes, jornalistas e defensores de direitos são maiores do que nunca com Chávez", disse Vivanco, cuja organização produziu recentemente um relatório de 133 páginas destacando os abusos na Venezuela sob o título Tightening the Grip (Endurecendo o controle, em tradução livre).
Foram fundamentais para os esforços de Chávez para enfraquecer adversários dois esquemas, em 2004 e 2010, que lotaram a Suprema Corte de apoiadores, segundo o relatório. Autoridades venezuelanas negam as acusações, dizendo que são forjadas por autoridades americanas para desestabilizar o governo Chávez. Mas juízes venezuelanos, tanto da Suprema Corte como de instâncias inferiores, expressaram publicamente lealdade a Chávez e ao que ele chama de sua "revolução" para subverter a ordem econômica. "Eu jamais trairia esse processo, muito menos meu comandante, porque carrego o sangue da revolução", escreveu um juiz, Ali Fabricio Paredes, num website do governo em 2009. "Eu dou minha vida pela revolução." Pouco tempo depois, ele ordenou que outro juiz, Maria de Lourdes Afiuni, que havia enfurecido Chávez com suas sentenças, fosse levada a julgamento.
Outro juiz, Eladio Aponte, que havia servido na Suprema Corte e recentemente buscou asilo nos Estados Unidos, contou em um canal de televisão de Miami, em abril, como autoridades de alto escalão do governo telefonavam para ele e para outros juízes com instruções sobre como tratar casos delicados. "Eles simplesmente pediam favores que eu atendia", disse Aponte na SOiTV. "E ai do juiz que se recusasse a cooperar."
Autoridades venezuelanas dizem que Aponte está mentindo e "que vendeu sua alma" a autoridades americanas. Em seu longo reinado, Chávez governou por decreto durante alguns meses em certo período e construi um vasto aparato de mídia estatal que cobre de escárnio seus críticos enquanto adula suas políticas. A Assembleia Nacional aprovou uma série de leis amplas e nebulosas que grupos que defendem direitos e a liberdade de imprensa dizem que são usadas seletivamente contra estações noticiosas críticas, disse Carlos Lauria, coordenador do programa para as Américas do Comitê de Proteção aos Jornalistas, com sede em Nova York.
Muitas políticas de Chávez foram aplicadas em outros países.De maio para cá, Correa, do Equador, fechou 11 emissoras, muitas das quais eram críticas de seu governo, segundo o comitê. Ele processou outras emissoras por difamá-lo, processos que resultaram em multas gigantescas que, segundo Lauria, têm um efeito desencorajador. Um relatório recente da Anistia Internacional diz que o governo usou prisões arbitrárias e o sistema judicial para reprimir protestos indígenas.
Na Bolívia, alguns opositores foram presos ou obrigados a se exilar. Na Nicarágua, adversários políticos dizem que Ortega recorreu à fraude eleitoral e à manipulação da Suprema Corte para concorrer à reeleição em 2011, que é proibida pela Constituição do país. "Podem-se ver muitas das mesmas técnicas sendo repetidas na América do Sul e alhures", disse Dobson, o autor do primeiro livro citado acima, sobre a influência da Venezuela nesses países. "Acredito que para os que estão se decidindo a usar meios antidemocráticos, a Venezuela se tornou um excelente laboratório para descobrir o que funciona e o que não funciona." / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

Folha de S. Paulo - O papel dos países não alinhados hoje


O Irã vem tentando mostrar ao mundo que sua cultura é aceitável, mesmo não alinhada ao modelo ocidental. Minha opinião: o Ocidente tem muito a perder no Oriente Médio (países recheados de petróleo) se um modelo "independente" der certo. Logo é melhor parar de importar petróleo do Irã até eles entrarem na linha. 

=> A Arábia Saudita é quase um Irã em termos de fundamentalismo, mas ninguém por aqui fala nada porque ela é "amiguinha" do Ocidente.

Esse artigo tem muita retórica mas mostra essa vontade do Irã em se mostrar legítimo.

Folha de S. Paulo - O papel dos países não alinhados hoje / Artigo / Mohammad Ali Ghanezadeh

Mohammad Ali Ghanezadeh, 59, é o embaixador da República Islâmica do Irã no Brasil
O Irã, democracia religiosa, tem papel central na luta contra as ameaças criadas pelos países poderosos, como o acúmulo de armas nucleares e químicas
A cúpula do Movimento dos Países Não Alinhados (NAM, de Non-Aligned Movement) será realizada entre 30 e 31 de agosto em Teerã.
Ela tem como lema uma governança global compartilhada, que, com base na rejeição de unilateralismo, é uma das preocupações comuns dos Estados independentes e soberanos.
Neste evento, será debatido, entre outros assuntos importantes para os países-membros, as mais relevantes questões internacionais e regionais, incluindo o fortalecimento do multilateralismo, a reforma na estrutura das ONU, o desarmamento internacional, o combate ao terrorismo e o enfoque em uma solução pacífica para litígios e conflitos.
O NAM é um movimento que reúne 120 membros. Foi criado em 1961 por países que não queriam se associar a nenhum dos dois polos na estrutura internacional da época.
Há ainda os membros-observadores, 21 países, incluindo o Brasil, e dez organizações regionais e internacionais, incluindo a ONU, a Organização de Cooperação Islâmica, a União Africana e a Liga Árabe. Dois terços dos países na ONU são do NAM. Trata-se da segunda maior organização política mundial, depois da própria ONU.
Mas há uma questão: que papel o NAM pode desempenhar?
Como resposta, devo dizer que as necessidades atuais exigem que todas as nações participem da gestão global. Embora o sistema bipolar tenha sido desmantelado, a humanidade segue com vários problemas:
- O unilateralismo;
- As ameaças criadas pelo acúmulo de armamento nuclear, biológico e químico dos países poderosos;
- A continuação da fissura entre os países desenvolvidos e aqueles em desenvolvimento;
- A falta de reforma das velhas estruturas internacionais;
- E, entre outros problemas, a degradação ambiental.
As soluções passam pela determinação e pela cooperação coletiva. O NAM, com base na grande capacidade de seus países-membros, pode desempenhar um papel eficaz para enfrentar e controlar esses acontecimentos e assuntos supracitados.
Desde o início da vitória da Revolução Islâmica no Irã, em 1979, nosso país baseia os seus princípios e aspirações de política externa, incluindo uma mudança nas relações injustas que regem o mundo:
- À não dependência aos poderes dominadores;
- Ao respeito ao direito à autodeterminação das nações;
- À eliminação, a ocupação e a rejeição da dominação estrangeira.
Por isso, houve uma intrínseca sinergia com os ideais do Movimento Não Alinhado. Assim, o Irã teve uma presença ativa e eficaz nas atividades desse movimento.
O líder supremo e o presidente da República Islâmica do Irã destacaram várias vezes a importância da criação de sistemas justos na ordem internacional, mantendo a independência das nações e assegurando outros princípios do NAM.
A República Islâmica do Irã, como um dos membros pioneiros do Movimento Não Alinhado, ao fornecer padrões de uma democracia religiosa ganhou um papel central no processo de evolução das estruturas regionais e internacionais.
Sem dúvida, o encontro em Teerã será um importante novo passo na realização dos objetivos do Movimento Não Alinhado.
O Irã, como um dos principais membros, assumirá nos próximos três anos a presidência do NAM. Fará todo o esforço possível para tornar práticas as ideias dos fundadores do movimento, através da preservação da unidade e da empatia dos membros. O movimento tem de ter uma participação ativa nas relações internacionais, em busca dos interesses comuns dos membros.
O governo e o povo iraniano, de acordo com uma tradição de hospitalidade e de olhar pacífico ao mundo, recepcionarão todos os líderes dos países membros e observadores do Movimento Não Alinhado.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

O Estado de S. Paulo - 'Potências não dão alternativas ao Irã'


Última frase muito interessante: "Quanto mais pressão externa, mais radical será a política doméstica no Irã. Não há dúvidas quanto a isso." As atuais sanções econômicas não são a maneira correta de lidar com o Irã. Só cria mais ressentimento. Claro que para Israel e os EUA não é conveniente ter uma potência árabe anti-Israel florescente. Melhor que fiquem mal!


O Estado de S. Paulo - 'Potências não dão alternativas ao Irã'/ Entrevista Seyed Mousavian

Para 'voz moderada' da diplomacia de Teerã, maior transparência e respeito a direitos iranianos são as chaves para disputa nuclear
ROBERTO SIMON - Nos últimos anos, o embaixador Seyed Hossein Mousavian foi da cúpula da República Islâmica, onde atuava como um dos principais conselheiros, a uma prisão iraniana, acusado de espionagem. Mas sua opinião continuou a mesma: Ocidente e Irã podem achar uma solução negociada para a questão nuclear, desde que Teerã atue de modo transparente e as potências reconheçam o direito iraniano a tecnologia atômica para fins pacíficos.
Hoje trabalhando como professor convidado na Universidade Princeton, Mousavian falou por telefone com o Estado.
Comecemos pela grande pergunta: o Irã está em busca da bomba atômica?
Estou certo de que a resposta é "não". Na Guerra Irã-Iraque (1980-1988), quando Saddam Hussein matou e feriu 60 mil iranianos com armas químicas, o Exército do Irã estava prestes a retaliar da mesma forma. Mas o líder supremo, imã Ruhollah Khomeini, o impediu, dizendo que armas de destruição em massa eram proibidas pela religião. Ou seja: o Irã rejeitou responder com armas não convencionais mesmo diante de um ataque químico em uma guerra. É a prova mais contundente de que a república islâmica realmente está comprometida com sua crença religiosa, que veta armas de destruição de massa.
E como explicar, por exemplo, as conclusões do último relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), de que o Irã buscou - e talvez ainda esteja buscando - tecnologia nuclear para fins militares?
O tom e a linguagem da AIEA claramente mudaram desde que (Yukia) Amano assumiu a organização, em 2009. Seu antecessor, (Mohamed) ElBaradei, publicamente afirmou: "Não temos nenhum indício de que o programa iraniano tem objetivos militares". Essa mudança é explicada por um despacho da Embaixada Americana em Viena vazado pelo WikiLeaks, segundo o qual Amano estava "no campo dos EUA", contra o Irã. É evidente que houve um entendimento entre Amano e Washington.
Mas, durante o mandato de Baradei, o Irã não enriquecia urânio a 20%, um dos principais motivos de preocupação das potências ocidentais.
De fato com Baradei o Irã não enriquecia a 20% e, mesmo sob Amano, Teerã não queria dar essa passo. Em fevereiro de 2010, o chefe da agência atômica iraniana disse em uma entrevista à rede Al-Jazeera que, se as potências não cortassem o suprimento de combustível, os iranianos não enriqueceriam urânio a 20%. Teerã queria manter o grau de enriquecimento a 5%. Infelizmente, o P5+1 (cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha) rejeitou a oferta. Em setembro daquele ano, o presidente Mahmoud Ahmadinejad, em visita à sede da ONU, disse que suspenderia o processamento a 20% se recebesse o combustível. Novamente o Ocidente recusou a oferta. As potências não deram alternativa.
E qual é a chave para destravar o diálogo?
A chave é fácil de ser identificada. Onde está a "linha vermelha", o limite, para o P5+1? Se for a bomba atômica, a solução é simples. Mas, se for proibir o Irã de enriquecer urânio, não haverá saída, pois isso é um direito iraniano. A solução para a crise é um plano de quatro pilares - dois para o lado iraniano, dois para o Ocidente. O Irã deve promover transparência total e esclarecer todas as dúvidas da AIEA. Ao mesmo tempo, deve mostrar que é confiável, reduzindo o enriquecimento de 20% a 5%. Do outro lado, potências devem reconhecer o direito do Irã de ter um programa nuclear de acordo com as normas internacionais. E, finalmente, é preciso gradualmente levantar as sanções.
Potências ocidentais apostam que, se o Irã estiver sob pressão de sanções, pensará duas vezes antes de seguir avançando com o programa. Como o sr. vê isso?
É uma visão equivocada. Sanções não serão capazes de fazer o Irã se submeter às demandas deles. Não importa quão fortes sejam as sanções ou quão verdadeira seja a ameaça de intervenção militar, o governo iraniano não mudará sua política nuclear dessa forma. O Irã não abrirá mão de seus direitos. Essas ameaças só afastam uma solução negociada.
O sr. foi acusado de espionagem. Como está agora a situação interna no Irã e como será o país sem Ahmadinejad, que deixará o cargo ano que vem?
A política doméstica do Irã sempre foi complicada e, se o Ocidente começar a ter relações normais, recíprocas e justas com a república islâmica, acredito que esse será um incentivo para os iranianos adotarem uma posição mais moderada.
Isso se aplica também ao âmbito interno?
Sim. Quanto mais pressão externa, mais radical será a política doméstica no Irã. Não há dúvidas quanto a isso.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Reino Unido – Agência BBC Eighteen arrested over murder of Brazil tribal leader


 

Mato Grosso e seus fazendeiros...

Reino Unido – Agência BBC

Eighteen arrested over murder of Brazil tribal leader

Police in Brazil have arrested 18 people in connection with the killing of an indigenous leader last November.
Gunmen shot Nisio Gomes in Mato Grosso do Sul and took away his body, which is still missing.
Police only confirmed his murder last week, after finding that a witness who claimed to have seen him alive had been paid to give false evidence.
Mr Gomes, 59, led a Guarani group which had returned to its land after being evicted by ranchers.
A spokesperson for the federal police in Ponta Pora, in the southern state of Mato Grosso do Sul, said they had arrested 10 people belonging to a private security firm suspected of having been hired to attack Mr Gomes's camp.
The spokesperson said another eight people, six of them landowners, were being held on suspicion of masterminding the attack.
Confession
The police official said there had been a breakthrough in the investigation into Mr Gomes's disappearance when two suspects confessed in exchange for a more lenient sentence.
The suspects said they worked for a private security firm and described being hired by a group of eight people to murder the indigenous leader.
Members of Nisio Gomes's Guarani Kaiowa group had all along described how masked gunmen had broken into their camp and shot their leader in the head, chest, arms and legs, before loading his body into a truck.
Police officials said that "at first we had doubts because there was very little blood in the camp and we had a witness saying he had seen Chief Gomes in Paraguay."
They said their enquiries showed the witness had been paid to give false evidence.
Medical examiners further said that Mr Gomes could have had a cardiac arrest, which would have explained the small amount of blood at the scene.
The Guarani are the largest indigenous group in Brazil, with approximately 46,000 members spread over seven states.
They say they are frequently forced from their ancestral land by farmers, and receive little or no protection from local authorities.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Folha de S. Paulo - As mentiras paraguaias das elites brasileiras


Artigo interessante.
Pra resumir essa lombra do Paraguai: esse país tem uma população submissa. Alguém já viu outro país com "gringos" donos de 25% das terras férteis?
Quanto mais tosco é um país, mais a economia manda na política...

A solução pro Paraguai é o Estado absorver os pobretões com o dinheiro de impostos do agronegócio [incluso maconha, grande parcela do PIB paraguaio], gastando em programas sociais ou funcionalismo. Ou isso, ou reforma agrária...

Folha de S. Paulo - As mentiras paraguaias das elites brasileiras/ Artigo/ João Pedro Stedile

O maior conflito do Paraguai é reaver a terra usurpada por fazendeiros brasileiros. O país vizinho "cedeu" a estrangeiros 25% do seu território cultivável
Mal havia terminado o golpe de Estado contra o presidente Fernando Lugo e flamantes porta-vozes da burguesia brasileira saíram em coro a defender os golpistas.
Seus argumentos eram os mesmos da corrupta oligarquia paraguaia, repetidos também de forma articulada por outros direitistas em todo continente. O impeachment, apesar de tão rápido, teria sido legal. Não importa se os motivos alegados eram verdadeiros ou justos.
Foram repetidos surrados argumentos paranoicos da Guerra Fria: "O Paraguai foi salvo de uma guerra civil" ou "o Paraguai foi salvo do terrorismo dos sem-terra".
Se a sociedade paraguaia estivesse dividida e armada, certamente os defensores do presidente Lugo não aceitariam pacificamente o golpe.
Curuguaty, que resultou em sete policiais e 11 sem-terra assassinados, não foi um conflito de terra tradicional. Sem que ninguém dos dois lados estivesse disposto, houve uma matança indiscriminada, claramente planejada para criar uma comoção nacional. Há indícios de que foi uma emboscada armada pela direita paraguaia para culpar o governo.
Foi o conflito o principal argumento utilizado para depor o presidente. Se esse critério fosse utilizado em todos os países latino-americanos, FHC seria deposto pelo massacre de Carajás. Ou o governador Alckmin pelo caso Pinheirinho.
O Paraguai é o país do mundo de maior concentração da terra. De seus 40 milhões de hectares, 31.086.893 ha são de propriedade privada. Os outros 9 milhões são ainda terras públicas no Chaco, região de baixa fertilidade e incidência de água.
Apenas 2% dos proprietários são donos de 85% de todas as terras. Entre os grandes proprietários de terras no Paraguai, os fazendeiros estrangeiros são donos de 7.889.128 hectares, 25% das fazendas.
Não há paralelo no mundo: um país que tenha "cedido" pacificamente para estrangeiros 25% de seu território cultivável. Dessa área total dos estrangeiros, 4,8 milhões de hectares pertencem brasileiros.
Na base da estrutura fundiária, há 350 mil famílias, em sua maioria pequenos camponeses e médios proprietários. Cerca de cem mil famílias são sem-terra.
O governo reconhece que desde a ditadura Stroessner (1954-1989) foram entregues a fazendeiros locais e estrangeiros ao redor de 10 milhões de hectares de terras públicas, de forma ilegal e corrupta. E é sobre essas terras que os movimentos camponeses do Paraguai exigem a revisão.
Segundo o censo paraguaio, em 2002 existiam 120 mil brasileiros no país sem cidadania. Desses, 2.000 grandes fazendeiros controlam áreas superiores a mil ha e se dedicam a produzir soja e algodão para empresas transnacionais como Monsanto, Syngenta, Dupont, Cargill, Bungue...
Há ainda um setor importante de médios proprietários, e um grande número de sem-terra brasileiros vivem como trabalhadores por lá. São esses brasileiros pobres que a imprensa e a sociologia rural apelidaram de "brasiguaios".
O conflito maior é da sociedade paraguaia e dos camponeses paraguaios: reaver os 4,8 milhões de hectares usurpados pelos fazendeiros brasileiros. Daí a solidariedade de classe que os demais ruralistas brasileiros manifestaram imediatamente contra o governo Lugo e a favor de seus colegas usurpadores.
O mais engraçado é que as elites brasileiras nunca reclamaram de, em função de o Senado paraguaio sempre barrar todas as indicações de nomes durante os quatro anos do governo Lugo, a embaixada no Brasil ter ficado sem mandatário durante todo esse período.
JOÃO PEDRO STEDILE, 58, economista, é integrante da coordenação nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) e da Via Campesina Brasil

sexta-feira, 13 de julho de 2012

The Hindu: Opinion: Sanctions on Iran punish its people, not its leaders


Fato importante: as sanções ao Irã atingem mais ao povo do que ao governo. Apenas reforça a ideia de "Ocidente maligno".

Índia – The Hindu

Opinion: Sanctions on Iran punish its people, not its leaders

Saeed Kamali Dehghan
The embargo on oil imports and sanctions on the central bank won’t stop Iran’s rulers from pursuing their nuclear ambitions
The people of Iran should not be held to account for wrongdoing by their regime — and yet, that is what is happening as western countries impose ever-tighter sanctions.
Sanctions are pushing ordinary Iranians to the edge of poverty, destroying the quality of their lives, isolating them from the outside world and most importantly, blocking their path to democracy.
As a result of sanctions, Iranians are now cut off from the world. Universities can barely hold international conferences, students have to forget about exchange programmes, academics face ridiculous difficulties for simple tasks such as subscribing to international journals or submitting research papers to them.
Many services are denied to Iranians not because providers are legally bound to refuse them but because they err on the safe side for fear of getting into trouble. Last month’s incident in the U.S., when an Apple store refused to sell an iPad to an Iranian-American teenager was just one example.
On banking
Iran’s central bank, the only official channel for Iranians to transfer money abroad, is a major target of the sanctions. The Iranian regime, and those close to it, have ways of circumventing the restrictions but ordinary people are not so fortunate.
For example, if you want to enrol for a seminar in the West, purchase goods from abroad or simply book a hotel in another country, you have no easy way of paying. The same applies if you have relatives abroad and want to assist them financially.
If you are an Iranian studying in the EU or the U.S., then you have no way of accessing your bank account at home. If you’re a patient in Iran, in urgent need of medical treatment abroad, like Rojan Pirsalehi, and you need to pay the hospital to secure your visa, then you might end up losing your life.
Sanctions are certainly hitting the Iranian economy: the oil embargo is costing more than $3bn in lost revenue every month. After years of denial, even the Iranian officials are coming to terms about the impact, acknowledging that sanctions have finally begun to bite.
The problem, though is that the regime itself is relatively impervious to such pressures , so the burden falls disproportionately on the people.
Prices of fruit and sugar, among other staples, have soared — in some cases showing threefold and fourfold increases. The price of meat, an essential ingredient of Iranian food, has gone up to such an extent that many now eat it only on special occasions.
In western countries these economic woes would normally result in the government being thrown out of office.
But Iran, like Iraq at the time of sanctions, is not a country where its leaders can be held accountable through elections. In fact, the regime probably feels more secure rather than less, reasoning that sanctions are making the people too weak to revolt.
In effect, Iran’s limp opposition Green Movement has suffered a double blow — once when it was brutally crushed following the presidential election in 2009, and now finding the energy of its supporters sapped. Without sanctions, and the accompanying lack of access to technology, it would be better placed to communicate and organise.
Of course, supporters of sanctions might argue that some suffering now would be justified if it stops what they assume is the threat of a nuclear Iran. What they don’t realise is that sanctions are ruining people’s lives and not forcing Iranian leaders to change their minds. The latest round of nuclear talks between Iran and the West just proved that.
For some time, the West claimed that its sanctions are “smart” and “targeted,” that they were only designed to affect the Iranian regime and not its people. The latest embargo on the imports of Iranian oil and sanctions against the Iranian central bank has left no room for any pretence.
Sanctions are the war, albeit economic and psychological, that the West is waging against the people of Iran and not its rulers. There’s nothing in sanctions that the West should be proud of. It’s time the West thought twice about bringing Iranian people to their knees and destroying their lives.
(Saeed Kamali Dehghan is an Iranian journalist for the Guardian.)

China Daily: US sows seeds of discord


Este editorial mostra o tom "nacionalista" dos chineses, e seu tratamento horizontal com os EUA. 

Claramente a China não quer americanos metendo o cajado na soberania chinesa (soberania regional inclusive).

China – China Daily

Editorial: US sows seeds of discord

(China Daily)
By calling for all parties to engage in talks to resolve the South China Sea disputes, US Secretary of State Hillary Clinton has once again demonstrated that the United States is trying to interfere in the maritime disputes that only involve China and a few members of the Association of Southeast Asian Nations.
In a news release to the East Asia Summit meeting in Phnom Penh, Cambodia on Thursday, Clinton said, "the nations of the region should work collaboratively and diplomatically to resolve disputes without coercion, without intimidation, without threat, and without use of force."
Such remarks are inappropriate and ill-intentioned.
The US, as a force from outside the region, is not in any position to tell countries in the region how to solve their differences.
In fact, all the parties concerned have long agreed to abide by the Declaration on the Conduct of Parties in the South China Sea. They have also agreed to discuss a code of conduct to implement the declaration.
Foreign ministers from China and ASEAN countries reviewed progress in this regard and vowed to promote mutual understanding and trust during a meeting on Wednesday.
China has made it clear the South China Sea disputes should be solved at the bilateral level. Any attempt to engage third parties would further complicate the issue and disturb the process leading to peaceful solutions.
The ASEAN meetings are not appropriate venues to discuss the disputes. And the ASEAN meetings should not be distracted from far more important issues concerning regional peace and development.
The concerns Clinton expressed on Thursday about freedom of navigation, respect for international law and unimpeded lawful commerce in the South China Sea are unfounded, and were simply raised to serve the US' agenda. The navigational freedom that every country can enjoy in accordance with international law has been fully guaranteed and international trade through the South China Sea has never been impeded.
In their meeting later on Thursday, Chinese Foreign Minister Yang Jiechi and Clinton highlighted bilateral cooperation between China and the US in such areas as disaster relief and disease control. As Clinton has acknowledged, this is an important signal that the US and China not only can, but will work together in Asia as they have a convergence of interests in the Asia-Pacific.
However, the best way to realize their common interests in the region is through deepening cooperation, not widening gaps over issues such as the South China Sea.

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